quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mudança de discurso.

A jornalista Adriana Saldanha entrevista o presidente Luis Inácio Lula da Silva (crédito: Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)

A Copa do Mundo de 2014, no Brasil, vai ser bancada com dinheiro público. Ainda que tenha se referido a financiamentos via BNDES, foi o que deixou claro o presidente Lula em entrevista que vai ao ar nesta quarta-feira (9) às 22 horas na ESPN Brasil.

Na conversa com a jornalista Adriana Saldanha, disse o presidente:
- O Governo Federal, através do BNDES, se dispôs a criar uma linha de financiamento em que nós emprestamos o dinheiro ao governo do estado, se o estádio for público, ou emprestamos à empresa que for dona do estádio, ou seja, não é dinheiro público, é um financiamento (…) os governadores tomarão dinheiro emprestado e terão que pagar…

O presidente, como se sabe, é um craque na política e no uso da palavra, mas nem tanto conseguirá esconder o que está embutido na frase acima. Vejamos.

Apenas três são os estádios privados: o do São Paulo, o do Internacional e o do Atlético Paranaense. Os governadores de 9 estados garantirão os financiamentos no BNDES, banco que tem uma linha de R$ 3,5 bilhões para os estádios.

A pergunta é: o dinheiro será dos estados, de cada um dos 9 estados, ou é dinheiro privado?

A resposta é: o dinheiro é público. Quem vai pagar a conta destes supostos 9 estádios é o contribuinte de cada estado. Portanto, o que se tem é apenas uma distribuição de responsabilidades. As manchetes não poderão dizer que “Governo federal banca Copa 2014”. Terão que fazer um acréscimo:
- Governos federal e estaduais bancam a Copa 2014.

Isso, salvo nos casos dos três clubes acima citados, que têm estádios privados e que, como tal, terão que suportar eventuais empréstimos junto ao BNDES ou buscar parcerias.

Tanto assessores da Presidência da República quanto da CBF, questionados a respeito , lembraram:
- Mas esses estádios serão patrimônio público de cada estado, ou a iniciativa privada poderá comprá-los.

Quanto à iniciativa privada, que não quer bancá-los agora, é de se esperar sentado que venham querer pagar a conta depois. Já a saída “futuro patrimônio público” é um eufemismo para não dizer logo de cara que o governo, os governos vão pagar a conta.

Ao mesmo tempo, esse discurso desmente tudo o que foi dito no pré e no pós candidatura do Brasil a 2014.

Recordemos o que disseram alguns dos personagens deste enredo. A começar pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em 9 de maio de 2007. (E mais ou menos o mesmo diria já depois da escolha do Brasil):
- "Todos os governantes estão dispensados de contribuir com a candidatura. Numa Copa, cada seleção paga sua estadia. Já os campos (estádios) terão de receber investimentos privados. O único trabalho do governo será oferecer transporte público de qualidade, saúde e outras coisas".

Sobre essa curiosa mas sempre esperada transformação de discursos, mais de três anos depois o jornal O Estado de S.Paulo relatou nesta terça-feira 8 de junho de 2010, em matéria assinada por Jamil Chade, o que teria sido dito por um dos 15 membros do Comitê Executivo da Fifa sob condição de anonimato:
- Teixeira nos disse que falta apenas uma assinatura, mas que o dinheiro está garantido.

Na mesma entrevista que a ESPN leva ao ar nesta quarta às 22h e reprisa às 2h da madrugada, às 8h e às 15h desta quinta-feira, o presidente Lula disse também que custarão R$ 11 bilhões as obras de infraestrutura em cidades que receberão jogos da Copa:
- Como também na questão da mobilidade urbana são praticamente R$11 bilhões, que nós já estamos investindo no PAC 1 e no PAC 2 para que a gente possa fazer os corredores necessários, as estações de metrô necessárias para que a Copa do Mundo, quando ela chegar, o Brasil esteja altamente preparado.

Se as obras de fato forem para atender o conjunto da população, problema algum. Mas há que seguir com lupa os interesses que gravitam numa conta de R$ 11 bilhões.

Ainda as declarações e promessas de figuras públicas sobre a Copa 2014. Anunciava Orlando Silva a 29 de novembro do mesmo 2007, na abertura do 8º Encontro Nacional de Arquitetura e Engenharia:
- "O governo pensa em não destinar dinheiro público para a construção ou remodelação de estádios. Essa questão deve partir da iniciativa privada."

N.E. Tutuca- A Copa no Brasil em um primeiro momento nos enche de expectativa e euforia , mas se pararmos para pensar quem vai pagar a conta somos nós ,11 bilhõe$$$$$$$ . O que seria prioridade para o país hoje? Copa do Mundo ou Segurança Pública ,Saúde , Educação ? Vem mais imposto por aí ...


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