E viva o 7 de Setembro.

O Brasil não é um país afeito a patriotismos. O sete de setembro, ano após ano, interessa ao grande público tão somente para saber em que dia da semana cairá o feriado. A exceção à regra acontece a cada quatro anos, durante o período de Copa do Mundo de futebol, quando externamos um recluso espírito verde e amarelo. Todavia, no que toca às mazelas éticas e morais que atingem a Nação, nosso desinteresse é geral. Talvez isso explique o comodismo e a tolerância das entidades de classe com as violações dos sigilos fiscais efetuadas por gente ligada ao partido do governo no intuito de atingir o adversário da oposição. Não obstante o crime cometido junto à Receita Federal seja do tamanho do Brasil, não se vê um único gesto de indignação pública de maior envergadura. As centrais de trabalhadores, em particular, contaminadas pelo vírus da ideologia partidária, fecham os olhos e aderem a um silêncio comprometedor. Trata-se de um escândalo e de um escárnio. A pátria, literalmente, dorme em berço esplêndido.
Vergonha
Se a culpa pela afronta à Constituição Federal é de todos nós, pior ainda é a postura adotada pela presidência da República nesse incidente. O Planalto, com a desfaçatez típica de um nacionalismo faceiro, manipula o caso perante a opinião pública como se o acesso criminoso às declarações de renda, inclusive da filha do presidenciável tucano, fosse uma mera questiúncula eleitoral.
Aliás...
Se o Brasil fosse um país minimamente sério, já havia caído o comando inteiro da Receita Federal e o ministro da Fazenda. O óbvio, no nosso Estado, não é óbvio.
Exercício
Imaginemos, por exemplo, se o governo atual fosse comandado pelo PSDB. É fácil prever que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical, embora desafetas, estariam unidas no sentido de denunciar o crime cometido contra o cidadão comum. Passeatas e atos públicos aconteceriam de norte a sul do país e, em Brasília, mais de um milhão de pessoas pediriam a renúncia do presidente.
No campo
Fosse um governo que não do PT, o Movimento Sem Terra também estaria revoltado. Invasões de propriedade seriam orquestradas e, por conta da gravidade da situação, se estabeleceria uma espécie de “setembro vermelho”. Se o chefe da Nação tivesse fazenda, esta seria ocupada. E todos cantariam o hino nacional a plenos pulmões contra o abuso.
Opinião
A revista Veja dessa semana entrevistou personalidades de diversos segmentos da sociedade e perguntou o que cada uma delas pensava a respeito do mais recente político nacional. Entre todos os ouvidos, a declaração mais contundente é a da escritora Fernanda Young: “Alguém se surpreende ainda? A violação do sigilo fiscal é de uma indecência sem tamanho. É um estupro. O pior é que a maioria da população nem entende o que isso significa”. Ela tem razão. E viva o sete de setembro!

Fonte Paraná On Line