quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ENTREVISTA COM GLEISI.


 
Folha - A sra. é candidata ao governo do Paraná em 2014?
Gleisi Hoffmann - A pergunta que não quer calar (risos). Olha, meu projeto pessoal não está à frente do meu compromisso com a presidente e com país. Meu foco é o trabalho na Casa Civil. Temos outras pessoas dentro e fora do partido com condições de representar esse projeto no Paraná, como [o ex-senador] Osmar Dias (PDT) e o próprio ministro Paulo Bernardo. A vitória do Gustavo traz a mudança e uma bela oportunidade para o PT mostrar a sua forma de fazer governo.
 
Dilma quer que fique na Casa Civil?
Nunca falou comigo ao contrário. Voltar ao Senado é sempre possível, mas isso também cabe à presidente.
 
Vocês reclamaram de erros nas pesquisas locais.
Respeito as pesquisas e os institutos. Entretanto, alguns acabam tendo resultados muito diferentes da urna, para o bem ou para o mal. Falo também de pesquisas que nos deram muito à frente, mas que estavam erradas. Isso é ruim. Pesquisa, quando traz esses erros tão grandes, acaba sendo usada como instrumento eleitoral e pode intervir na vontade do eleitor. É papel do Congresso e do tribunal eleitoral discutir isso.
 
Como?
Talvez uma forma fosse penalizar os institutos que tenham um erro tão grande. Não temos multa no processo eleitoral para candidatos em desacordo com e lei. Teríamos que pensar, não sei se multa, orientação. Mas tem que ter responsabilização, porque não é sério com o eleitor e com a democracia.
 
Doeu apoiar um candidato tão crítico ao PT na época do mensalão?
Foi mais ou menos o que aconteceu com o Eduardo Paes no Rio de Janeiro. Se deu certo lá e foi possível, por que não seria possível aqui também? Claro que foi difícil, e lá também foi. Mas nós tínhamos um partido com vontade de participar das eleições, organizado, com condições, e não tínhamos uma candidatura viável. Por outro lado, tínhamos um partido aliado, o PDT, que tinha um candidato bem avaliado, com vontade de participar e chances de fazer uma boa disputa no processo eleitoral. Conversamos com esse candidato, ele veio para esse campo político e aceitou fazer essa aliança. Nós conseguimos dar luz ao que nos unia, e não àquilo que nos divergia.
 
A senhora chama isso de excesso de pragmatismo?
Não. Eu chamo isso de compromisso com a cidade e com o país. O que nos move é o futuro, construir as coisas de uma melhor forma para a população. Nós temos essa responsabilidade. E se nós tínhamos a possibilidade de fazer isso e trazer um resultado melhor para a cidade, nós devíamos fazer.
 
Olhando para Curitiba e SP, o PT está conseguindo conquistar mais a classe média?
Acredito que isso se deva muito à presidente Dilma, que fala em criar um país de classe média. É importante ter claro que esse preconceito contra o PT aqui em Curitiba não é uma coisa natural. Ele foi construído. Em Curitiba, quando o [deputado federal Angelo Vanhoni (PT-PR) quase chegou à prefeitura, em 2000, uma das peças publicitárias da campanha mostrava uma lona preta que cobria boa parte da cidade, dizendo que o PT iria invadir todas as áreas de Curitiba, que íamos dividir a casa das pessoas. Criou-se um pavor, e isso foi feito de uma forma sistemática. Neste momento, nós estamos rompendo com essa história curta, mas intensa, de preconceito contra o PT. Estamos iniciando o resgate de nossa credibilidade.
 
O Gustavo Fruet em Curitiba foi uma espécie de ponte para o PT chegar numa fatia do eleitorado a que jamais havia chegado?O PT sempre participou de disputas aqui no Estado. Tivemos participações em processos eleitorais importantes. O Vanhoni quase foi eleito prefeito de Curitiba. Eu fui eleita senadora em 2010 com uma votação expressiva na cidade. Portanto, já existe uma aproximação do PT com o eleitorado paranaense e curitibano. Então, eu acredito que essa aliança consolida essa aproximação, e vai nos dar oportunidade de mostrar na administração municipal a colaboração do PT para esse processo. Foi uma aliança boa para ambos os lados.
 
O Fruet foi rival do PT no passado. Como foi a construção dessa aliança?
Isso é uma consequência também da aliança que construímos em 2010 com o Osmar Dias (PDT). O Osmar também era de um campo político com o qual, até então, o PT tinha pouca proximidade, que era o agronegócio paranaense. Nós apostamos em ter uma sequência dessa aliança.
 
Foi difícil para o PT assimilar essa aliança?
Muito. Quando fomos fechar a aliança com o Osmar no diretório estadual, houve uma reação muito grande das pessoas. "Como que nós vamos fazer uma aliança com quem representa o agronegócio brasileiro?" Como se isso fosse uma coisa ruim! Isso depois do governo Lula, sendo o agronegócio responsável por 23% do nosso PIB. Então, nós tínhamos, e ainda temos, no partido alguns setores mais resistentes. No Paraná, o PT sempre teve uma história muito forte e muito próxima com o setor do campo. Quando nós fizemos a aliança e tivemos um bom resultado eleitoral, e consolidamos um campo de atuação, isso diminuiu muito. Ao mostrar que isso não comprometia nossa luta, nossa visão, que inclusive é defender o pequeno produtor rural, Nós começamos a ter um diálogo com esse setor, que é importante para o Estado e para o Brasil. Nós temos possibilidade de fazer essas alianças e avançar politicamente.
 
A senhora acha que o PT está mudando?
Eu não diria que o PT está mudando em relação aos seus princípios, à sua luta, mas em relação à sua tática política, sim.

A adesão do Gustavo Fruet a esse projeto é um sintoma dessa mudança?
É uma aliança política. Tem uma aliança tática, uma estratégia.

A senhora acha que o mensalão teve efeito nessas eleições?
Eu avalio que as pessoas sabem diferenciar muito bem as situações. Uma coisa é o julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal); outra coisa é a decisão do eleitor em razão de quem vai governar sua cidade, seu futuro. Ele avalia quais são as pessoas e alianças políticas que têm maior preparo, maior consistência nas propostas, maior firmeza em coordenar políticas públicas. O eleitor sabe diferenciar.

Apesar da eleição, o PT está vivendo um de seus piores momentos...
Já passamos uma fase muito mais difícil. Eu diria que o PT está vivendo uma fase muito boa. Está num governo bem avaliado, que está oferecendo ao povo brasileiro respostas importantes a seus problemas. Mesmo numa crise mundial, o Brasil tem tido resultados importantes na economia, na geração de emprego. E ter uma presidente que é petista com a avaliação que tem, e ter tido um presidente que saiu com a avaliação que saiu.

Mas, ao mesmo tempo, petistas podem ir para cadeia...
Primeiro, não sei se é isso que vai acontecer. Não temos o final do julgamento nem a dosimetria de penas. Segundo, isso é uma decisão de um outro poder que não me cabe comentar.
 
O PT está preparando crítica ao judiciário e contestações ao julgamento.
Nós podemos gostar ou não gostar de como as coisas se dão, mas nós temos que respeitar resultados e instituições.
 
Vamos ter o modelo de concessão de aeroportos resolvido até o fim do ano?
Espero que sim. Queremos que a Infraero esteja preparada para gerir aeroportos junto com o setor privado e sua rede própria, e nosso modelo olhará isso.
 
O governo está vulnerável com a sequência de apagões?
Primeiro que não consideramos uma sequência de apagões. É uma situação que pode ocorrer em um modelo complexo como o nosso. Segundo, o Ministério de Minas e Energia está atuando firmemente para dar resposta à população.

3 comentários:

  1. Paulo, me agrada a visão objetiva dela quanto a maneira de se fazer política. Ela visa sempre o resultado prático.

    Me agrada também, quando ela diz,referindo se ao julgamento do mensalão, que temos que respeitar resultados e instituições.

    Eu também sou adepto deste pensamento. Não precisamos concordar com algumas opiniões,decisões ou posicionamentos. Só precisamos respeitá-las.

    Muito boa a frase dela quando diz, "O que nos move é o futuro".


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  2. Era só o que faltava: o Tutuca 'virar a casaca' e entrar pro PT...... Bem, bem, há males que resultam em bom resultado: o PT ia começar a ter gente de tutano e sem medo de briga em suas fileiras....

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