Presença de pessoas que perderam as casas em escolas prejudica volta às aulas e cria clima de incerteza sobre o futuro das principais vítimas da chuva na Serra do Mar
Duas semanas após o desastre ambiental que atingiu o litoral do Paraná, um grupo de 416 pessoas ainda está vivendo em abrigos improvisados em escolas e igrejas. São 329 em Antonina, 46 em Morretes e 41 em Paranaguá, segundo a Defesa Civil Estadual. A presença das famílias mantém as aulas suspensas e impede o reinício das atividades escolares. A orientação das prefeituras é que a realocação dos desabrigados aconteça ainda neste fim de semana para que as aulas possam ser retomadas na segunda-feira. As famílias, no entanto, continuarão sem casa, pois não há previsão de quando serão construídas novas residências. As principais vítimas da tragédia reclamam da indefinição das autoridades e das constantes realocações.Enquanto assistem “quem tem mais sorte” voltar para o lar (após liberação da Defesa Civil) ou rumar para a casa de parentes, os que ficam tentam manter uma rotina e organização, o que não é fácil, uma vez que o entra e sai de pessoas dos abrigos ainda é grande. Nas paredes, cartazes com o horário das refeições, do banho e de dormir tentam conscientizar todos da importância da cooperação.
“Não é fácil. Não é como a casa da gente. Não há liberdade para nada. Eu tento me distrair, não pensar muito, senão fico louca. Isso já deveria ter acabado”, desabafa a doméstica Rosiane Severino Nogueira, moradora do bairro Floresta, em Morretes, um dos mais castigados pela chuva.
Providência definitiva
Assim como Rosiane, mais 45 pessoas (cerca de 15 famílias) aguardam por uma providência definitiva da prefeitura no abrigo improvisado na Escola Municipal Desalda Bosco da Costa Pinto, no bairro Marta, que tem 800 alunos. Antes, elas estavam em Paranaguá, no Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos(Caic), de onde foram realocadas na semana passada.
Em Antonina, a situação é semelhante. Para evitar “estresse”, a palavra usada por praticamente todas as cerca de 200 pessoas que se abrigam na Escola Municipal Gil Ferres, existe um revezamento para lavar os banheiros, preparar a comida e atender as crianças, que ganharam uma cama elástica para passar o tempo.
Muito por causa dessa situação, a ligação com a casa interditada não se desfaz. No bairro Caixa D’água, onde praticamente todas as casas estão interditadas, a população fica em casa durante o dia e retorna ao abrigo à noite. “Temos medo de a chuva chegar e nos pegar dormindo. Mas os homens ainda ficam nas casas, para cuidar dos pertences. As mulheres e as crianças vão para a escola”, diz a doméstica Rosenilda Batista de Oliveira, cuja vizinha morreu em um deslizamento.
Na Igreja Batista de Antonina, moradores do bairro Laranjeiras, o mais atingido, se dizem impacientes com a falta de respostas. “Queremos saber uma série de coisas: quando vamos ganhar novas casas? E o local? Tem que ter estrutura. Não podemos continuar assim”, reclama o funcionário público Gilberto Barbosa, que divide um abrigo com outras 12 pessoas da mesma família.
Prefeituras prometem fazer casas populares
As prefeituras de Morretes, Paranaguá e Antonina ainda não definiram um local onde as famílias poderão se instalar permanentemente. Mas como as aulas devem retornar na segunda-feira nos três municípios, a solução encontrada foi arranjar um novo abrigo.
Em Antonina, as famílias deverão ser realojadas para casas da vila operária próxima à Usina Parigot de Souza, para um alojamento do Clube Náutico e para um sobrado e seis casas cedidas pela prefeitura. O prefeito Carlos Augusto Machado prometeu doar um terreno na vila Batel, de cerca de 20 mil metros quadrados, para a construção de 105 residências. “Já solicitei a doação, e técnicos da prefeitura vão se reunir com a Cohapar para elaborar o projeto o quanto antes”, garantiu. Fonte- Gazeta do Povo.
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