Renato Lima, geólogo e integrante da Coordenação e Avaliação de Desastres da ONU e também coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná (Cenacid), explicou que inundações e deslizamentos são processos geológicos perigosos, assim como erosão e cabeça d’água, um fenômeno proveniente da chuva que cai em um determinado lugar, principalmente em serras e aumenta o nível de água, podendo provocar uma enchente. Estes processos sozinhos não gerariam problema. O que causa a tragédia é a presença do homem no local. “Sem homem não há desastre”, definiu.
Lima disse que inundações na região serrana são um processo natural, mas que a impermeabilização que o homem faz nos terrenos nas cidades agrava este processo natural. “O que seria meio metro de alagamento vira um metro”, exemplificou.
Uma equipe do Cenacid formada por Lima e mais cinco geólogos passou oito dias no litoral do Estado, com sede em Antonina, para fazer uma gestão do desastre. A missão do grupo foi dividida em duas linhas: apoio à Defesa Civil e avaliação emergencial de riscos nas quatro cidades atingidas pela chuva. Nesta avaliação, foi mapeado o que iria deslizar, o que estava deslizando, onde poderia ficar e onde não poderia.
Lima também esteve no estado do Rio de Janeiro, no mês de janeiro, quando a chuva devastou a região serrana do Rio. O geólogo contou que os processos perigosos ocorridos nos dois estados foram do mesmo tipo e que no litoral do Paraná, a magnitude dos processos foi ainda maior. “Aqui, provavelmente, mais do que lá. Tivemos danos estratégicos, como a interdição de uma ferrovia e de duas rodovias importantes, a BR 277 e a 376”, declarou.
Para Lima, a diferença entre o número de vítimas fatais nos dois estados se deve ao fato de os deslizamentos nos municípios do Rio terem acontecido a noite, pegando as pessoas despreparadas, e a densidade populacional lá ser mais alta. “As áreas atingidas com centenas de deslizamentos aqui no litoral do Paraná eram pouco habitadas e ocorreram durante o dia. Isto faz muita diferença para o número de vítimas”, explicou.
Os municípios paranaenses atingidos pela enchente e pelos deslizamentos passaram por uma mudança de paisagem. Segundo o geólogo, foram cerca de cinco mil deslizamentos no litoral. E, agora, encostas, rios e áreas secas estão em novos lugares. “Precisa-se conhecer novamente, estabelecer uma nova relação do homem com o ambiente”, esclareceu.
O que poderia evitar que um desastre natural como este ocorresse, seria um mapeamento de risco geológico nas cidades em escala de detalhe, que seria de, no máximo, 1 para 10.000. “Risco zero não existe, mas o mapeamento do risco geológico permite planejar ações concretas para refazer o plano diretor municipal e, assim, buscar melhores condições de segurança”, afirmou. Neste mapeamento, detectam-se quais são os tipos de perigo, onde eles estão e se tem uma ideia aproximada de frequência. Desta forma, poderia indicar possibilidades de ação.
Lima ainda afirmou que este foi o maior desastre dos últimos 30 anos na região litorânea do Estado. Mas que evidências geológicas mostram que já tiveram processos geológicos da mesma magnitudes ou maior. “Lembrando que para ser um desastre é necessário ter uma consequência”, finalizou.
Texto e gráfico revista Idéias.
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