Trechos de ; O Príncipe de Maquiavel.
CAPÍTULO XXII.
Dos secretários que os príncipes têm junto de si
DE HIS QUOS A SECRETIS PRINCIPES HABENT)
"Não é de pouca importância
para um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons ou não, segundo a
prudência daquele. E a primeira conjetura que se faz da inteligência de um
senhor, resulta da observação dos homens que o cercam; quando são capazes e fiéis,
sempre se pode reputá-lo sábio, porque soube reconhecê-los competentes e
conservá-los. Mas, quando não são assim, sempre se pode fazer mau juízo do
príncipe, porque o primeiro erro por ele cometido reside nessa escolha, E, porque são de
três espécies as inteligências, uma que entende as coisas por si, a outra que
discerne o que os outros entendem e a terceira que não entende nem por si nem
por intermédio dos outros, a primeira excelente, a segunda muito boa e a
terceira inútil, estavam todos acordes que se Pandolfo não se classificava no
primeiro grau, estava, necessariamente, no segundo; porque, toda vez que alguém
tem a capacidade de conhecer o bem e o mal que uma pessoa faça ou diga, mesmo
que por si não tenha capacidade para solucionar os problemas, discerne as más e
as boas obras do ministro, exalta estas e corrige aquelas, e o ministro não
pode esperar enganá-lo, pelo que se conserva bom."
Mas, para que um príncipe
possa conhecer o ministro, existe um método que não falha. Quando vires o
ministro pensar mais em si do que em ti, e que em todas as ações procura o seu
interesse próprio, podes concluir que este jamais será um bom ministro e nele
nunca poderás confiar;
CAPÍTULO XXIII
COMO SE AFASTAM OS ADULADORES
QUOMODO ADULATORES SINT FUGIENDI
"Não quero deixar de tratar de um ponto importante, de um erro do qual os
príncipes só com muita dificuldade se defendem, se não são de extrema prudência
ou se não fazem boa escolha. Refiro-me aos aduladores, dos quais as cortes estão
repletas, dado que os homens se comprazem tanto nas suas coisas próprias e de
tal modo se iludem, que com dificuldade se defendem desta peste e, querendo
defender-se, há o perigo de tornar-se menosprezado. Não há outro meio de
guardar-se da adulação, a não ser fazendo com que os homens entendam que não te
ofendem dizendo a verdade; mas, quando todos podem dizer-te a verdade, passam a
faltar-te com a reverência.
Portanto, um príncipe prudente deve proceder por uma terceira maneira,
escolhendo em seu Estado homens sábios e somente a eles deve dar a liberdade de
falar-lhe a verdade daquilo que ele pergunte e nada mais. Deve consultá-los
sobre todos os assuntos e ouvir as suas opiniões; depois, de liberar por si, a
seu modo, e, com estes conselhos e com cada um deles, portar-se de forma que
todos compreendam que quanto mais livremente falarem, tanto mais facilmente
serão aceitas suas opiniões. Fora aqueles, não querer ouvir ninguém, seguir a
deliberação adotada e ser obstinado nas suas decisões.
Quem procede por outra
forma, ou é precipitado pelos aduladores, ou muda freqüentemente de opinião pela
variedade dos pareceres; Daí resulta a sua desestima."
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