terça-feira, 8 de maio de 2012

PESQUISAS ELEITORAIS: INFORMAÇÃO E PROPAGANDA


Publicado na Revista SBPM – Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado.

É aqui importante refletir sobre o significado dos resultados de pesquisas eleitorais. Não há um significado único. As pesquisas assumem diferentes significações e desempenham funções diversas. Ignorar as diferentes significações é empobrecer a realidade. Dentre as principais significações, destacam-se: 

  a) As pesquisas são feitas para captar momentos de um processo, são retratos. Uma sucessão de retratos pode apontar uma direção, pode antecipar tendências. Todavia, trazem consigo a probabilidade, ainda que pequena, de erro. As pesquisas são tentativas de aproximação da realidade, aproximações, não a realidade. Por essa razão, apresentam sempre erro amostral e intervalo de confiança. 

  b) As pesquisas também se constituem ou cumprem a função de formação de opinião ou, em outras palavras, influenciam, não são neutras. Isto não significa dizer que são condenáveis. Ao contrário, como argumenta a Folha de São Paulo ou o Diretor-Executivo do Datafolha entre outros, por exemplo, cumprem importante papel no processo eleitoral.  
  Na perspectiva dos candidatos e dos profissionais de marketing, os resultados das pesquisas eleitorais são informações especiais, de singular importância no processo eleitoral. Sendo assim,
  
c) assumem funções de ferramenta útil ao planejamento e para a tomada de decisões, 
estratégias e ações de campanha e, também, 

d) podem se constituir em peças de propaganda eleitoral. 

  Em resumo, são informações, e como toda informação dotada de relevância, são tomadas em consideração e podem influir. Nesse sentido, são informações com potencial de propaganda, que pode ser realizada em determinadas situações.
  Na perspectiva dos eleitores, os resultados das pesquisas são informações úteis, mas em graus variados, como mostra, por exemplo, estudo de Márcia C. Nunes,  Örjan Olsén e Joseph Straubhaar, no artigo O uso de pesquisas eleitorais em decisões de voto, publicado pela revista especializada em pesquisas de opinião, Opinião Pública[1][4] (CESOP/ UNICAMP, Campinas, SP, Ano I, dez./93, Vol.1, nº 2, pp. 63-75.  

  São informações que sintetizam situações complexas. Sintetizam, em percentuais de fácil entendimento, a resultante em intenções de voto, um quadro de ações e estratégias das diferentes candidaturas. Em série, revelam tendências, a evolução do processo. 

São sínteses numéricas que têm a pretensão de conter a verdade das urnas, antecipando-a pela expressão “se a eleição fosse hoje...”, que poderia ser assim interpretada “mantendo-se tudo como está, esse será o resultado das eleições”.  Essa é a verdade de que são portadoras e nisso reside o potencial enquanto peças de propaganda, ainda que sejam apresentadas pelos meios de comunicação como informação disputando espaço com um mundo de outras. 

No entanto, uma vez publicadas, e conhecido o quadro, quem não é o primeiro redefinirá estratégia e tentará, dentro das regras do jogo democrático, por todos os meios ao seu alcance, reverter a situação. Já quem está na frente, tentará manter-se ou mesmo ampliar vantagem, ficando atento aos sinais vindos de seus adversários. As estratégias e as ações das diferentes candidaturas tendem a levar em conta a situação revelada pelas pesquisas, que desempenham papel, aqui, de sinalizadoras do grau de acerto das estratégias e das ações empreendidas. Nesse sentido, não se participa do ponto de vista de que a pesquisa é uma fonte de informação como qualquer outra (Figueiredo, 1994). 

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