Grandes fortunas, argumentos pequenos
Por:
Paulo Moreira Leite em sua coluna Vamos Combinar
2/01/2012
Eu,
você e a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Palmeiras, do Vasco….não
queremos pagar mais impostos. Detestamos. (Na verdade, eu acho até que muita
gente faz do imposto de renda um alvo exagerado e não percebe que, muitas
vezes, é o salário que está baixo e não o imposto que se tornou muito alto. Mas
voltemos ao assunto inicial).
Se
nós não gostamos de pagar muito imposto, alguns brasileiros muito ricos tem
outra postura: simplesmente não admitem pagar mais impostos.
Claro que seria errado generalizar. Existem brasileiros muito ricos com plena consciência de seus deveres e seus direitos. Acham natural que, após amealhar rendimentos imensos, sejam chamados a dar uma nova contribuição à sociedade.
Uma
boa parcela, contudo, encara a coisa como ofensa pessoal, falta de consideração
com sua condição social. E eles tem meios para impor seu ponto de vista.
Alegam que rico no Brasil é perseguido, invejado. E é por isso, dizem, que periodicamente surge o debate sobre o imposto das grandes fortunas. Você pode achar que estou exagerando mas não se engane. A visão que os muito ricos têm de sua própria situação é tão individualizada, auto suficiente, que muitos acreditam que o problema é de ressentimento. Não conseguem enxergar uma questão objetiva mais elevada, uma forma redistribuição de renda, praticada em muitos países que em outras ocasiões até são apontados como exemplo de desenvolvimento equilibrado.
Alegam que rico no Brasil é perseguido, invejado. E é por isso, dizem, que periodicamente surge o debate sobre o imposto das grandes fortunas. Você pode achar que estou exagerando mas não se engane. A visão que os muito ricos têm de sua própria situação é tão individualizada, auto suficiente, que muitos acreditam que o problema é de ressentimento. Não conseguem enxergar uma questão objetiva mais elevada, uma forma redistribuição de renda, praticada em muitos países que em outras ocasiões até são apontados como exemplo de desenvolvimento equilibrado.
Eles
podem até considerar razoável dar um pouco mais de recursos para a saúde
pública mas não acreditam que essa parte deva sair de seus bolsos.
Meses atrás, nos Estados Unidos e na França, os bilionários locais vieram a público para dizer que aceitariam dar uma maior contribuição ao imposto de renda de seus países.
No Brasil isso não acontece nem poderia.
Pagar
impostos significa, de uma forma ou de outra, aceitar uma relação de
compromisso com o conjunto da sociedade, representada pelo Estado. Você se
submete a uma maioria, representada por um governo eleito.
Mas
muitos de nossos muito ricos não pensam assim. Colocam-se acima da sociedade e
da lei. Olhando o retrospecto, é possível dizer que estão errados?
Acredito que, se a legislação sobre grandes fortunas for aprovada, não faltarão advogados para tentar derrubá-la com o argumento surrealista no caso de que todos são iguais perante a lei. Duvida?
Acredito que, se a legislação sobre grandes fortunas for aprovada, não faltarão advogados para tentar derrubá-la com o argumento surrealista no caso de que todos são iguais perante a lei. Duvida?
Faça
uma antologia das últimas decisões do Judiciário envolvendo senhores de “grossa
fortuna”, como se dizia antigamente, e tire suas próprias conclusões. Pergunte
quantos foram parar na cadeia. Quantos tiveram de entregar recursos do próprio
bolso para honrar prejuízos que cairam nos ombros de funcionários ou
consumidores.
Nossos muito ricos têm um imenso poder de influencia para fazer valer sua vontade. Além das bancadas amigas no Congresso e no judiciário, têm advogados especialisados em diminuir a própria carga tributária. Podem redistribuir seus rendimentos para pagar menos. Também podem reinvestir o imposto a pagar. Assim, elevam os rendimentos futuros e pagam menos impostos em relação ao passado. Têm um imenso arsenal de recursos — legais — para dissimular propriedades, rendimentos e investimentos.
A
partir de uma faixa de renda impensável para mortais comuns — o patamar começa
em torno de R$ 5 millhões por ano conforme algumas estimativas — é possivel não
pagar imposto algum.
Entre os argumentos contra o imposto sobre as grandes fortunas, a maioria representa uma humilhação para a maioria da sociedade.
Entre os argumentos contra o imposto sobre as grandes fortunas, a maioria representa uma humilhação para a maioria da sociedade.
O
mais conhecido é dizer que cobrar esse imposto é um esforço inútil, porque os
potenciais ultra contribuintes sempre darão um jeito de escapar da malha da
receita, seja em contas no exterior, seja em investimentos encobertos. É
humilhante porque implica numa tentativa de impor a ideia que os muito ricos
sempre serão bem sucedidos em garantir a própria impunidade. Podemos até
concordar com essa observação, pois a Justiça só é cega nas estatuas de mármore
que enfeitam nossos tribunais. Mas não é por causa da alta periculosidade de
determinado cidadão que se deve desistir de enquadrá-lo em padrões universais
de justiça.
Outro
argumento é dizer que, mesmo que fosse cobrado, o imposto renderia tão pouco
que o retorno não valeria a pena. Não confere, tecnicamente. Alguns cálculos
dizem que este imposto poderia render R$ 80 bilhões a mais para a Receita.
Mesmo que essa estimativa esteja exagerada, e mesmo que se admita o mais alto
grau de sonegação possível, como é regra no país inteiro, uma visão sensata dos
impostos ensina que se deve cobrar mais de quem ganha mais e só depois discutir
o que se faz com os recursos a mais que entraram no cofre.
O
terceiro argumento é grotesco. Consiste em dizer que está tudo certo com os
recursos da saúde pública — o problema é encontrar gerentes competentes. Não dá
para começar a discussão porque, no Brasil, a saúde privada consome 45% das
receitas para atender 25% da população.
Envergonhado
porque paga relativamente menos impostos do que sua secretária, o bilionário
americano Warren Buffett publicou um artigo pedindo para pagar mais — não para
reclamar que o dinheiro não era bem empregado, mas porque era cobrado de forma
injusta.
O ponto é este. Na Europa, nos Estados Unidos, o debate sobre impostos dos muito ricos é econômico e social. No Brasil, envolve força política e prestígio individual. Acredite: é muito mais delicado.
O ponto é este. Na Europa, nos Estados Unidos, o debate sobre impostos dos muito ricos é econômico e social. No Brasil, envolve força política e prestígio individual. Acredite: é muito mais delicado.
Por Tutuca,
Embora esteja definido na Constituição “desde 1988”, o IGF ainda não foi regulamentado por lei complementar e portanto ainda não pode ser cobrado.
O que se nota é que quando assunto é mexer no bolso dos poderosos ,muita gente enfia o rabinho entre as pernas e vai empurrando com a barriga.
Também acho que o PT afinou, prezado Tutuca, nessa e em muitas outras questões.
ResponderExcluirMinha sugestão é que você convoque o seu PRTB e, quem sabe, o Alexandre Cury.
Só agora me dei conta de que esses são permanentes defensores dos interesses populares.
Essa notícia tem tudo haver com essa matéria.
ResponderExcluirO líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), contestou hoje a alegação do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, de que o volume de mais de R$ 700 milhões destinados a Pernambuco para prevenção de enchentes em 2011 foi obra do Congresso.
“A base toma as decisões de acordo com a vontade do governo, vota o que o governo manda”, afirmou. “São 400 e tantos, então é uma ”tratorada” atrás da outra.”
Caro Paulo,
ResponderExcluirHoje o governo é maioria absoluta no Congresso e pode "se quiser" bater o martelo sobre a questão.
Penso que essa, digamos assim,vista grossa com essa situação não é só de responsabilidade do governo atual,afinal a constituição ,vale lembrar, é de 1988,portanto outros governos também não fizeram questão de mexer com os poderso$$$$.
Nessa questão específica não vejo como o Alexandre intervir,por se tratar de ser uma incumbência exclusiva do Congresso .
Já o PRTB vai bem obrigado.
1. Gosto de anônimos e da sua permanente e corajosa disposição para debater sempre bem escondidos.
ResponderExcluir2. Rubens Bueno, tratado pelo Raul Jungmann como um dos nomes do PPS para as eleições presidenciais de 2014 (o outro é o Roberto Freire), faz uma barda básica e reclama - oh, que horror! - que a base vota sempre com o governo!
3. Quer o sestrosinho que a base governista vote com a oposição?
4. Quando o governo, por sua iniciativa ou por emendas de parlamentares destina verbas para o Nordeste a tropa golpista fala em "atendimento aos currais eleitorais nordestinos".
5. Agora, quando verbas federais chegam ao Paraná ou a São Paulo, nenhum pio: por que eles não dizem "currais eleitorais do sudeste ou do sul?"
Meu caro caçador de "Anônimos" Cequinel
ResponderExcluirDeixe-me clarear as idéias do anônimo lá em riba... muchacho
Veja bem, o embróglio todo está nos R$ 28 milhões liberados em 2011 pelo Ministério da Integração Nacional para obras de prevenção de desastres naturais em todo o País, o Estado de Pernambuco, terra natal do titular da pasta, Fernando Bezerra Coelho (PSB), ficou com R$ 25,5 milhões (89,7%). É o que apurou a ONG Contas Abertas com base em dados do Tesouro Nacional, certo?
Porém o problema todo reside, mora, se aloja, invade, herda, aluga, se apropria com direito de posse no fato de que o orçamento deste programa é insuficiente...
Meu querido anônimu's, R$ 28 milhões para prever desastres naturais em todo país? Ora-ora...
Seria injusto, porém, acusar o governo federal de estar investindo pouco nos estados. Só duas favelas cariocas (Alemão e Rocinha) receberam quase R$ 1 bilhão do governo federal num par de anos, para realizar obras de infra-estrutura. O Rio recebeu ainda, do mesmo ministério de Integração Nacional, e no mesmo ano, R$ 300 milhões para obras de reconstrução, por conta das tragédias na região serrana. Quer dizer, a Integração dá R$ 25 milhões para Pernambuco e R$ 300 milhões para o Rio, e o primeiro é que é o privilegiado? Pare!!!
Agora uma coisa é certa, a minha presidente deve se preocupar mais com outras coisas e não se deixar levar por essas frituras ministeriais que o *PIG está fazendo, acho que ela está caindo muito fácil no disse-me disse da Imprensa Golpista...
Era o que continha meus caros.
Um abraço.
Neuton Pires
Ainda bem que o BcF é meu amigo.
ResponderExcluirPrecisas, mortais e certeiras palavras, meu caro.
E com assinatura, é mole?
Enquanto isso, nas quebradas, anônimos vão sendo enterrados nas covas rasas da indigência das idéias e da coragem.
E como fedem os anônimos!