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ANDREA JUBÉ VIANNA - Agência Estado
A investigação da Polícia Federal que desmantelou a máfia dos
caça-níqueis montada em Goiás e nos arredores de Brasília mostra que o
contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, apontado como chefe
do esquema, controlava uma bancada multipartidária no Congresso Nacional, além
de manter ligação indireta com pelo menos dois governadores. Além do senador
Demóstenes Torres (GO), ex-DEM, Cachoeira era próximo de parlamentares de mais
cinco partidos: PT, PSDB, PP, PTB e PPS.
Os grampos da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que desbaratou o
esquema de Cachoeira, revelam que ele tinha relações de intimidade com os
parlamentares, com quem tratava de negócios e falava sobre quantias em
dinheiro, devidas e a receber.
Os deputados goianos Rubens Otoni (PT), Carlos Alberto Leréia (PSDB),
Sandes Júnior (PP) e o Stepan Nercessian (PPS-RJ), flagrados em conversas com
Cachoeira, já respondem a processos na Corregedoria da Câmara. O líder do PTB,
Jovair Arantes (GO), admitiu que é amigo de Cachoeira e pediu o apoio dele à
pré-campanha à Prefeitura de Goiânia.
O petista Rubens Otoni teve de explicar uma doação não declarada de R$
100 mil de Cachoeira à campanha dele à Prefeitura de Anápolis. Otoni disse que
Cachoeira queria a ajuda dele para desenrolar a papelada de um laboratório na
cidade.
O tucano Carlos Alberto Leréia ainda não explicou um depósito de
Cachoeira destinado a ele, rastreado pela Polícia Federal, no valor de R$ 100
mil. Leréia usava um dos telefones Nextel, cedidos por Cachoeira e habilitados
nos Estados Unidos, para dificultar grampos. O tucano disse que só vai se
pronunciar depois que sua defesa tiver acesso ao inquérito. Ao contrário da
direção do DEM, que cobrou a expulsão imediata de Demóstenes, o presidente do
PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), pediu um tempo para que o tucano se
explique. "Não prejulgamos ninguém, mas desejamos esclarecimentos".
Leréia é aliado do governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, que
teve de dar explicações sobre a proximidade ao contraventor. Ele admitiu que
esteve com Cachoeira em "reuniões festivas", inclusive na casa de
Demóstenes. A chefe de gabinete de Marconi, Eliane Pinheiro, pediu exoneração
do cargo depois de aparecer em conversas em que passava informações sigilosas
sobre operações policiais que tinham como alvo o esquema do contraventor.
Outro governador indiretamente envolvido é o petista Agnelo Queiroz, do
Distrito Federal. Grampos da Polícia Federal indicam que um integrante do governo
dele participou de uma operação para direcionar um contrato milionário,
estimado em R$ 60 milhões, para a máfia dos jogos.
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